domingo, 6 de setembro de 2009

Exílio

 
 
Exílio
(Anderson Farias)
 
A ruptura
A descostura
A queda dura da muralha
 
A união
A amargura
A percepção da nossa ditadura
 
O Exilio
O maurilio
Nego bom que já morreu
 
A liberdade
O livre arbitrio
Eu tô confuso por soltar um sorriso
 
A escuridão
O meu conflito
Matava minha fome matando mosquito
 
O 38
O bar do cuca
miolos meus espalhados na sinuca

Passa Boi Passa Boiada na Moenda de Cana de Açucar

 
 
Passa Boi Passa Boiada na Moenda de Cana de Açucar
(Anderson Farias)
 
Te chamei para dar um passeio
E te passei
Cortando em pedaços dilacerei
E te joguei numa moenda
Moenda de cana de açucar
Para lhe refazer
Te reconstruir de uma forma mais doce
Misturei-te com barro de forma dinâmica
Te compuz como vaso de cerâmica
Te pintei com tinta orgânica
E lhe pus a secar
Longe do vento que vinha do mar
Quando secaste já era manhã
Aproveitei pra plantar em ti
Um lindo pé de maçã
Tempo bruto sofrimento pela espera
Do primeiro fruto
 
Meu fruto
Minha comida
Deslizava dentro de mim
Lubrificada com saliva
Deixando as sementes estacionadas
Antes de chegar a tuba uterina
A semente da maçã moldava meu destino
Crescia um pé de maçã no meu intestino
Que crescia
Sufocava
Dilacerava minha carne interna
Em velocidade voraz
Esperneio ao me ver partir ao meio
Minha salvação não virá pelo correio
Minha lágrima de orvalho
Crescia e me rasgava
Cada ramo cada galho
 
Hoje sou carne morta
Hoje sou pé de maçã
Você moldada como vaso ao meu lado
E eu não posso tocar-te
Hoje é um dia tedioso
Sou peixe fora dagua
Sou planta fora do vaso

Lágrimas de Crocodilo e Encanações Lacrimais Erroneas

 
 
 
 
Lágrimas de Crocodilo e Encanações Lacrimais Erroneas
(Anderson Farias)
 
Conferi meticulosamente nos seus olhos
Áridos
Secos
Parecem o grande deserto do Saara
Nenhuma gota
Nenhum pingo
Nessa casa não tem goteira
Não Pinga "ni mim"
Será que pinga em alguem?
Nenêm...
Meu bem...
Vou abrir seu peito com um machado
Só pra ver o que é que tem
Um riacho correndo
Por cima do seu pulmão
Me senti arrepiado
Por inteiro
Provei da agua e tinha gosto
De soro caseiro
Fiquei isento
Em tormento naquele momento
Quando entendi que seus olhos eram secos
Porque chorava pra dentro

sábado, 5 de setembro de 2009

A Mulher de Cimento



 A Mulher de Cimento
(Anderson Farias)

A mulher de cimento
Passou por mim
Fitou-me com um olhar de concreto
Que tinha o peso de dez lajes batidas

Ela parecia querer me perguntar algo
Mas seus labios de pedra nem sequer sorriam
Fiquei tão curioso
Que quis ter uma britadeira

A convidei para um passeio
Ela não falou
Afinal quem cala consente
Roubei de uma construçao o seu presente

Ela sorriu com um sorriso de cerâmica
E disse que o piso era escorregadio nos fins de semana
E me fez sentir em demolição
Quando me contou que tinha um chão

De onde veio esse vergalhão que furou meu coração?
Quantas pedras escondidas tenho em minhas mãos?
Queria rabiscar em tua pele cinza
Antes de contar o ultimo carneirinho

Ficarei de peito aberto até o sol raiar
E seu calor severo fará meu coração petrificar
Daí então acabara meu sofrimento
Quando virar pedra meu coração de cimento

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Pedaço

 




Pedaço
(Anderson Farias)

Um pedaço disso
Não deveria ter engolido
Agarrou na minha garganta
E cortou minha voz
Esse pedaço...
Puta que pariu
Fico triste de lembrar
Só não sei com que caneta
Escreveram nos teus olhos adeus
Olhos que diziam mais do que sua mudez
Por ter tambem engolido um pedaço...
Me responda por sinais
Pisque uma vez para dizer que me ama
Duas pra dizer que com saudades vai ficar
Três para mandar eu ir me danar
Um pedaço de comunicação ninguem pode negar
Uma piscadela...
Duas...
(...)
TRÊS !?
Droga, terei que arrancar seu olho de uma vez
E terei que comer de uma vez
É uma pena mas tive que fazer
Mas confesso o que faço
Comi seu olho sim
Mas deixei um pedaço

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Açucarada Despedida


Açucarada Despedida
(Anderson Farias)

O dia se desfez
Quando o nó desatou
Você abriu suas asas
E na imensidão mergulhou

Eu até que me estiquei
Pra tocar na compreensão
Mas não consegui
A não ser tocar o chão

Fui dormir com a porta aberta
Minha casa alçapão
Não ouvi um assobio
Não ouvi uma canção

O silencio doía tanto
Que prejudicava minha audição
Ah mas que ingratidão!

Eu sei que sou falho
Mas não precisava me temperar
Com um dente de alho

Fez minha vida virar duro osso
E jogou meu coração
No fundo de um poço

Clausura que me fez perceber
Como escolhi mal o seu pescoço